28 de novembro de 2011

Seu Agostinho, doceiro e inventor!

Neste sábado, peguei a Via Dutra e fui em direção a Guaratinguetá, conhecer uma das figuras mais importantes e  emblemáticas da cidade: Seu Agostinho, doceiro, fazedor de pilão, cozinheiro de mão cheia, contador de causos, inventor, colecionador e acima de tudo um homem cheio de alegria e histórias sobre a alimentação do Vale do Paraíba. Nem preciso dizer que tive uma aula! Saí de lá depois de 6 horas de conversa, 12 cervejas e um prato do melhor torresmo que se pode comer, sequinho e muito saboroso. Sem contar que depois de uma prosa desse tamanho,  não tem como não sair de lá transformada...

Doces:

Seu Agostinho é profundo conhecedor da história dos doces na cultura brasileira. Me contou da influência dos árabes na doçaria portuguesa, africana e por fim na brasileira. 
A influência do trigo na mistura com o ovo e o leite  foi introduzido no Brasil pelos portugueses,  que também tiveram a influência da doçaria moura na cultura lusitana. Os mouros utilizavam o gergelim, o mel, o trigo e ovos para a base de quase todos os doces produzidos por eles.  
Os árabes exerceram grande influência na África Oriental, que com o tráfico de escravos, trouxeram negros que também produziam doces a base de mel e gergelim. Com a chegada deles em terras brasileiras, esses doces foram se transformando, sendo então, utilizados ingredientes encontrados e produzidos aqui, como por exemplo figo, mamão, abóbora e outras frutas. Claro que com a produção do açucar nos engenhos, os europeus se transformaram em grandes consumidores desta iguaria.
Segundo Seu Agostinho, um dos doces produzidos no Vale do Paraíba, no século 18,  que se perdeu no tempo é "Furrundum", feito com cidra ou mamão verde ralados e cozidos, juntamente com melado e gergelim.

 

A história do doce na vida do Seu Agostinho começa com seus avós. Segundo ele, seu avô teve 35 filhos, 16 do primeiro casamento, 16 do segundo com sua avó e "03 por fora". Seu avô, João Imbuába (sobrenome que adquiriu da população local porque ele se vestia como os franceses: cobertos dos pés a cabeça, semelhante as aves: com o corpo coberto de penas) é descendente de europeus, morava em Parati e se casou com Dona Maria em 1919. Subiu a serra e veio parar em Guaratinguetá, dono de muitas terras era plantador de café. Com a crise internacional de 1929, os doces entraram na história da familia pra ajudar o orçamento familiar, já que o avô sofreu um AVC e então Dona Maria teve que tomar as rédeas da familia.
Sua mãe, herdou o conhecimento da doçaria e durante anos sobreviveu fazendo e vendendo doces na cidade. Seu Agostinho, cresceu vendo e ajudando a mãe no preparo. Já adulto, iniciou a Faculdade de Engenharia Elétrica, mas largou os estudos pra levar adiante a tradição familiar na doçaria e atualmente produz mais de 40 tipos de doces. 



Salgados

Além do  doces e do delicioso torresmo que tive a sorte de poder saborear, Seu Agostinho também resgatou na região,  a arte de fazer a  Paçoca, principalmente a de Carne Seca. 
A paçoca é um prato típico da alimentação indígena, e se refere a qualquer coisa que se bate no pilão. A palavra "Paçoka" é de origem tupi guarani e significa amassado, esmigalhado, pisado. 
Segundo Seu Agostinho, o ato de pilar adianta um processo que seria feito pela mastigação e pelo estômago, melhorando a digestão, além de despertar o sabor. Desta forma, quando se pila o alimento, as propriedades gustativas são melhor apreciadas pelo palato, fazendo com que a gente saboreie com mais intensidade o alimento. Além da Paçoca de carne seca, ele também faz a de peixe e de bacalhau. 
Não tive a sorte de provar a paçoca, mas como ele tem uma banca no centro da cidade e todo sábado está lá pilando, já está marcado na agenda dos próximos fins de semana uma nova vista.


O inventor, o colecionador, o contador de causos, o literato, o homem.

Seu Agostinho é uma personalidade! Contador de Causos, tinha voltado de um canal de TV regional em que havia participado contando causos e distribuindo pra platéia o feijão tropeiro preparado por ele na noite anterior. Fez sucesso! Durante minha estada em sua casa,  várias visitas chegavam orgulhosos de sua participação do programa.
Durante toda nossa prosa, ele citou várias personalidades como Vinícius de Moraes, Wilson Batista, Paulinho da Viola e claro historiadores, antropólogos e teóricos que se dedicaram ao tema da alimentação, como Câmara Cascudo, Gilberto Freyre e Fialho de Almeida. Ele faz palestras em faculdades e gastronomia, convidado de chefs e pesquisadores da culinária regional.
Homem de grande senso de humor, bom de copo,  no próximo ano será enredo de Escola de Samba. É um colecionador de instrumentos da cozinha antiga, digno de um museu. Também coleciona serrotes, e possui em casa uma marcenaria em que produz e vende Pilões.
Seu Agostinho, é avô coruja da neta Maria Julia, companheiro há mais trinta anos de Dona Cida, pessoa excepcional que o acompanha na cerveja, no trabalho e na vida. É um homem que cultiva amizades duradouras -  enquanto estive lá, recebeu a visita de um amigo dos tempos da faculdade que faz questão de manter próximo. 

 

 


O Mestre

Seu Agostinho é daquelas pessoas que dá vontade de querer sempre por perto. Tem opinião forte, não tem papas na língua pra dizer o que pensa, é enérgico com as palavras e com as suas atitudes. Desses homens que ensinam com seu  exemplo de vida. Tive o privilégio de conhece-lo e nesta prosa, tive direito a várias receitas ( inclusive uma secreta que não conto nem com reza braba!). Seu Agostinho é um Mestre!
Muito obrigada Seu Agostinho!




Em tempo: Agradecimento especial a Lêssandra e sua filha linda Catarina, que me apresentaram ao Seu Agostinho e me receberam em sua casa com amor e carinho!

UPDATE: navegando achei o blog do Seu Agostinho, tá aqui ó: http://agostinhodapacoca.blogspot.com/
e foi lá que percebi que na verdade o sobrenome dos avós é EMBOAVA e não Imbuava como tá no texto. 

21 de novembro de 2011

O Pão nosso de cada dia!

Sempre gostei de pão. Nego os brigadeiros, os suspiros, as bombas de chocolate, mas o pão é um alimento que não consigo ficar sem. Meu corpo necessita dos açucares dos carboidratos. Há alguns meses quando comecei a pensar na alimentação com mais responsabilidade e com planos para que num futuro próximo eu pudesse vir a ser uma cozinheira de fato, dei início a uma grande mudança na minha alimentação, sem abrir mão do sabor, pois é ele que faz a conexão entre a comida e memória. Quem não se lembra de uma comidinha simples a beira do fogão com quem amamos, com aquele sabor inigualável?
Pois bem, além de comer da minha própria comida, resolvi agora fazer meus próprios pães. E passei a ler sobre eles, a estudá-los, a entender os processos do trigo, do fermento, enfim  a compreender a técnica da panificação. Estou só engatinhando ainda, mas quero levar adiante essa história.
O pão sempre teve um significado muito forte na história do homem e de sua evolução. Segundo alguns estudos o pão nasceu praticamente junto com o controle do homem sobre o fogo. No Egito os homens colocavam uma massa em cima de pedras em alta temperatura, quando a massa secava ela se transformava numa espécie de bolacha. No início os pães eram uma mistura de grãos e água. Com o tempo foi se juntando a isso, ervas, temperos e outros ingredientes e por fim temos hoje uma infinidade de pães. Com as trocas comerciais entre os egípcios e gregos os pães se popularizaram e padarias publicas foram abertas, que recebiam os nome de lares - daí provem a palavra lareira.
No Brasil, apesar de já se ter conhecimento do pão desde a chegada dos portugueses, o pão se popularizou somente no século XIX, pois o trigo não estava presente no cotidiano do homem brasileiro que anteriormente consumia a farinha mandioca e de milho.
Enfim, neste domingo de sol e calor, passei o dia numa cidadezinha do Vale do Paraíba, chamada São Bento do Sapucai, este lugar tem se tornado uma espécie de segunda casa, uma vez que pessoas muito queridas e que de certa forma são minha segunda família tem me recebido com tanto carinho e acolhimento.
Fiz duas receitas de pão, uma de fubá pra não perder a veia caipira, e outra integral com nozes. Não fiz com uma receita exata, uma vez que li várias receitas e como disse anteriormente, tentei entender os processos e técnicas pra depois literalmente colocar a mão na massa. Vou tentar repassar aqui esta experiência.

Pão integral:

02 medidas de trigo integral
01 medida de trigo branco
01 medida de gérmen de trigo
01 colher de chá de sal
01 colher de sobremesa de açucar
45 gr.  de fermento biológico
100 gr de manteiga em temperatura ambiente
Água em quantidade suficiente pra deixar envolver a massa

Comecei misturando o fermento com o açucar e umas colheres de trigo. Logo em seguida coloquei a manteiga, o ovo, o sal, e os demais ingredientes secos. Depois fui colocando água e sentindo a massa se envolver de modo que quando a massa começasse a desgrudar das mãos, eu tirei ela da tijela e coloquei sobre a mesa com a superfície enfarinhada e fiquei sovando durante alguns minutos até sentir a massa totalmente maleável e firme.
Deixei descansar por mais ou menos duas horas debaixo do sol, pra que o fermento pudesse agir. Depois deste tempo sovei a massa novamente e coloquei nozes picadas. Deixei descansar mais uns 40 minutinhos ao sol e forno médio por mais ou menos 30 minutinhos.



Pão de Fubá

02 medidas de trigo branco
01 medida de fubá
45 gr. de fermento biológico
01 colher de chá de sal
01 colher de sobremesa de açucar
01 ovo caipira
100 gr de manteiga em temperatura ambiente
Água em quantidade necessária pra deixar envolver a massa.

O modo de fazer foi igual ao do pão integral. Com o mesmo tempo de descanso ao sol, sovando e descansando. Só que na segunda sova, não acrescentei nenhum outro ingrediente.




Fiz duas massas do Pão de Fubá, uma com uma fubá industrializado, mais fino. Essa massa ficou mais leve, mas não tão gostosa assim. A outra fiz com um fubá da terra, mais grossa que ficou bem mais amarelinha, só que um pouco mais pesada.





Importante saber: O fermento biológico é um microorganismo vivo que para reagir precisa de glicose  (por isso a importância do açucar) e tem o calor como aliado nessa reação. Quem já não ouviu dizer que em dias de frio não pode fazer pão, porque ele não cresce?

P.S.1: Esse lugarzinho em São Bento que me acolhe é também uma pousada. Simples e aconchegante, se chama Pousada Nasa. Seu Donizete e Dona Sandra cuidam de todos os detalhes de um jeito especial. Se quiserem mais informações,  aqui vão os links:

P.S.2: Aproveitei que estava com faca e o queijo na mão, digo o trigo, a água e o forno na mão e fiz uma torta de alho poró com tomates. Segue a fotinha, porque eu acho que foi a torta mais bonita que eu fiz e também porque segundo os comensais presentes ficou divina! Mas a receita eu passo outro dia, certo?
           
           


Bom, e depois de tudo isso fui tomar um banho de cachoeira, porque eu acho mais que merecido!

Evoé!

7 de novembro de 2011

Biscoito de Polvilho Frito


A comida além de ser o combustível do corpo e o que nos mantém em pé e com forças pra dar conta do cotidiano, também é um elemento de socialização cultural, portanto carrega a nossa memória,  afetos e desejos. 
Os sabores, os aromas, o jeito de fazer de cada comida me remete sempre ao ritual  de convivência, de criação de vínculos, (ainda que o cotidiano e a rotina desvairada do mundo contemporâneo façam de tudo pra acabar com isso!). 
Quando pensamos numa comida que fez parte de nossa história, sempre nos lembramos da pessoa que fazia aquele prato, de como nos relacionávamos com ela, do sabor e do clima  da casa durante seu preparo, das conversas em volta da mesa enquanto o alimento era partilhado, enfim, a comida é o ponto de ligação, um tipo de conexão muito precisa, pois aguça os sentidos e nos sensibiliza para o ato de compartilhar. Compartilhar o alimento em si, mas também as idéias, os desejos, as angústias e os sentimentos.
A receita de hoje é uma das mais claras e bonitas lembranças que tenho de minha família. É nas tardes de domingo com todos reunidos, que minha vó exibe toda o seu amor pelos filhos, netos e agora bisnetos. Cada biscoito era e continua sendo disputado à tapa entre eu e meus primos. Risadas, sorrisos e brincadeiras em volta do tacho pra enrolar os bolinhos. Uma festa!

Com o início da pesquisa sobre a comida caipira, uma das primeiras receitas que pensei em registrar foi essa. Foi então que num desses fins de tarde, pedi a minha vó pra fazer a receita para que eu pudesse fazer o registro em fotos. Mas como neste caso, existe uma ligação simbólica e de amor incondicional, acabei tentando transportar esse registro a um formato mais emocional. O resultado é este vídeo:



Informações:


O biscoito de polvilho é uma receita típica das cozinhas caipira e mineira.

Nesta receita o biscoito não é assado como a maioria dos que a gente encontra por aí atualmente e sim, frito.  Mas colocado na na gordura fria, que vai esquentando junto com os biscoitos, pois segundo minha vó, se colocá-los na gordura quente, eles estouram.

A base do biscoito de polvilho como o próprio nome diz é o polvilho azedo que dá a maciez e leveza pra essa receita que mesmo frita, fica sequinha e leve.

A receita é simples, leva farinha de milho - um dos principais alimentos da dieta do homem caipira, herdado da cultura indígena, polvilho azedo que funciona como amido na receita, ovo caipira (de preferência), água e sal.

Pesquisando em alguns livros e sites, existem variações de nomes e alguns ingredientes, mas a base é a mesma. Em algumas cidades do Vale do Paraíba, o biscoito de polvilho ganha o nome de bolinho de farinha frito.  

Também encontrei registros do biscoito de polvilho frito na culinária cuiabana.



Bom, é preciso dizer que é uma primeira experiência com esse material, por isso é importante o feedback de quem assistiu pra que a gente possa melhorar se for fazer outros...Espero que gostem. Bom apetite!!!

30 de outubro de 2011

Viagem pelo Vale do Paraíba

Tempo sem postar nada por aqui. Explico: Mudei de cidade, mudei de emprego, mudaram coisas importantes dentro de mim. Virei outra. Estas mudanças precisavam ser reformuladas, precisei de tempo pra digerir tudo isso e organizar algumas pretensões minhas com relação a arte de fazer e saborear a comida.
Saí de São Paulo, voltei pro interior. Pra uma cidade não tão pequena, mas que tem o que de melhor poderia me oferecer para o que busco com relação a culinária: a localização. Estou morando novamente em São José dos Campos, maior cidade do Vale do Paraíba, encravada entre a  Serra da Mantiqueira, Litoral Norte e Sul de Minas.

Desde muito pequena, me encantei com os processos e a alquimía da cozinha. O milho que virava pamonha, a jabuticaba que se transformava em geléia, a água e o trigo que juntos cresciam e iam pra mesa como pão quentinho e saboroso. Mas todo esse processo sempre estava carregado de vínculos e emoções. Foi com o processo da pamonha que todo ano era feito em casa, com a participação dos homens e mulheres da familia que conheci as histórias de vida de meus avós e meus pais, pois enquanto se passava o dia ralando e cozendo o milho, essas histórias eram contadas e comentadas por eles.
Nos meses de setembro, com o pé de jabuticaba do quintal de casa carregado, os vizinhos passavam a tarde colhendo e chupando aquele fruto negro e doce, e partilhavam com minha mãe seus sonhos, objetivos e desejos.

Comida é memória. E a cozinha,  como disse Levi Strauss, "é o lugar simbólico em que se dá a passagem da natureza e a cultura". É desta forma que concebo a culinária e seus desdobramentos, o homem é aquilo que come e a maneira como ele come e prepara o que come nos conta um bocado das coisas que ele vive.

Iniciei neste fim de semana, uma expedição. Uma viagem pelas cidades desse Vale do Paraíba, pra conversar com quem pode me ensinar a cozinhar, com quem tem as mãos, boca e olhos atentos pra cada tempero que encontra, com quem tem a sabedoria pra enfrentar as panelas e saborear a comida simples e cheia de histórias que narram o modo de vida do homem caipira, do homem que trotou carregando no lombo das mulas a riqueza que modificou o país, das mulheres que aprenderam com a necessidade cotidiana a criar pratos saborosos e substânciais pra alimentar seus filhos e maridos nas viagens tropeiras. Dos homens e mulheres que fazem doces, moqueam a carne, assam o porco, plantam as verduras e legumes que comem.

Faço à vocês que chegaram até aqui, um convite. Um convite pra olhar e conhecer comigo a comida do Vale do Paraíba e entender melhor a alma e o jeito de viver dessa cultura tão rica e cheia de memória.

Pra iniciar esta viagem, fui até Lagoinha. Cidadezinha de 5 mil habitantes, que fica entre Cunha e São Luís do Paraitinga,  carregada de festas cristãs - ao todo são 26 festas ao ano! Tendo como ponto alto a Festa do Divino que acontece todos os anos no mês de Julho. Lá me encontrei com João Rural, jornalista, culinarista e pesquisador da comida caipira. Tivemos um papo saboroso, regado a cachaça produzida na cidade, com direito a fazer e degustar uma das iguarias mais importantes e emblemáticas do Vale, o Bolinho Caipira.

Em Lagoinha tem uma cachoeira chamada Cachoeira Grande. Linda! Antes passei por lá, o dia estava lindo e quente, perfeito para um mergulho!


A História do Bolinho Caipira:

Muitas são as histórias desse bolinho feito com massa de farinha de milho frito recheado com carne. Conta-se que inicialmente o bolinho caipira era recheado com lambari, por isso o formato comprido e arredondado. Com o tempo a linguiça de porco incorporou o recheio, e hoje em muitas cidades é recheado com carne moída.
O bolinho caipira é feito em várias cidades do Vale, as receitas variam de lugar pra lugar. Em Jacareí, é feita com farinha de milho branca (que dá mais liga à massa) recheada com linguiça, em Caçapava é feita com carne moída envolvida na massa e em São José é feita com farinha de milho amarela, recheada com carne moída crua temperada com muito limão.

João Rural, me convidou pra fazer uma receita e, enquanto a gente "proseava" botamos a mão na massa, a receita que fizemos foi essa:

500 gr de farinha de milho branca,
Água fervida com cheiro verde picado, caldo de galinha e sal.
Recheio:
Linguiça de porco sem a pele e amassada com o garfo pra soltar os gomos.

Coloque numa vasilha toda a farinha e vá colocando água. A medida de água, segundo João Rural é "a zóio", ou seja, tem que ir colocando água, misturando à farinha até sentir que vira uma massa firme, em que dê pra formar os bolinhos com as mãos.
Assim que a massa estiver no ponto, faça pequenas bolinhas, e com o dedo indicador afunde o centro, coloque um bocado de linguiça dentro, feche e com as duas mãos aperte pra que ele fique comprido, arredonde as pontas. Frite em óleo bem quente até que fiquem sequinhos.














Curiosidades:

 - Atualmente o bolinho caipira é servido tradicionalmente nas festas juninas na região ( Pra mim é inconcebível festa junina sem bolinho caipira. Nestes anos em São Paulo, sempre que participava de festas juninas, achava que não era a mesma coisa sem ele!rs)

- Segundo  João Rural, a farinha de milho amarela começou a ser produzida somente no final do século 19, inicialmente pra alimentar o gado, por isso ela é tem mais proteínas e vitaminas. Hoje ela é mais popular e portanto mais barata. O bolinho caipira também pode ser feito com ela, mas aí é necessário acrescentar um pouco de farinha de mandioca à massa pra ela dar liga e não estourar na hora de fritar.

- Pra saber um pouco mais das histórias do João Rural, ele tem a TV Chão Caipira. Lá tem receitas e textos sobre a alimentação no Vale. Vale a visita!


Em tempo: agradeço a Cida Ceciliano do SESC São José dos Campos, que proporcionou este encontro por meio do projeto de turismo social, Roteiros e Sabores. Ao grupo Orgulho Caipira capitaneado pelo Amarildo, que fez um som bonito e contou um tantão de coisas sobre a cidade e ao Ralf e Celina que nos receberam de braços abertos na Fazenda Crystal, lugar aconchegante  e claro, ao João Rural que fez com que eu voltasse pra casa com a sensação de que estou no caminho certo! 

19 de maio de 2011

Lasanha de Brócolis

Esta é daquelas receitas que vc faz e sabe que vai agradar. 
Lasanha é uma preferência nacional, almoço de domingo com a família. Hummm, só de pensar já fico com água na boca!
Esta receita é uma variação que aprendi há muito anos atrás com uma grande amiga, que na época era vegetariana e foi amor à primeira mordida. "Roubei" a receita e sempre que quero impressionar alguém, mando ver na lasanha de brócolis.
A receita é muito simples e saborosa!

Vamos lá: 

Um pacote de massa para a lasanha ( eu prefiro a massa fresca, mas vai de sua preferência)
400 gr de mussarela ralada
100 gr de parmessão ralado
orégano e cheiro verde

01 maço grande de brócolis lavado ( eu uso as folhas e o talo além é claro das flores, e prefiro pra esta receita o brócolis  nacional), azeite, alho e cebola picadinha, sal e pimenta do reino.
Pico o brócolis grosseiramente e refogo com alho a cebola e tempero a gosto com sal e pimenta do reino e reservo.

Para o molho branco:
01 litro de leite para o molho branco
03 colheres de manteiga
03 colheres bem cheias de farinha de trigo
noz moscada, sal e pimenta do reino.

Coloco na panela em fogo alto a manteiga e o trigo e mexo pra envolver bem estes dois ingredientes. Vou acrescentando o leite ( não pode parar de mexer!) até que o trigo e  manteiga derretam e se misturem ao leite tomando muito cuidado pra não empelotar. Neste momento abaixo o fogo e não páro de mexer até formar um creme não muito espesso.
Ralo a noz moscada e acrescento depois que apago o fogo e reservo.

Montagem: 

Unte a forma com azeite e coloque uma camada bem fina do molho branco. Depois espalhe a massa, o brócolis cozido, uma camada de queijo mussarela e molho branco novamente, depois a massa e assim por diante. Eu faço 03 camadas e termino sempre com a massa e o molho branco, salpico o cheiro verde bem picadinho e um punhado de orégano e o queijo parmesão. Asso em forno médio por trinta minutos ou até que o queijo  fique douradinho. 

Posso garantir que fica uma delícia!




30 de abril de 2011

Celebração

A minha familia não segue uma tradição religiosa, e pra vocês terem uma idéia disso, num natal em que minha familia resolveu fazer a ceia - porque antes só fazíamos o almoço do dia 25, minha vó teve a idéia de,  ao toque das 12 badaladas  do dia 24 para o 25 fazer uma oração, e como palavra de vó é palavra de vó, nem os filhos nem os netos ousaram contrariar.
Acontece que,  ao toque do relógio a meia noite todos nós demos as mãos e formamos um grande circulo na sala, e minha vó então começou a puxar um pai nosso, e depois de dizer: "santificado seja o nosso nome",  um breve silencio pairou no ar por alguns segundos, os olhares pairavam na roda, mas ninguém ousava dizer nada, afinal estávamos no meio de uma oração puxada pela matriarca da familia. Eis que depois deste silêncio, minha vó solta: "iihhhh, me esqueci!" e foi uma gargalhada total. Esse foi nosso melhor natal, porque durante as badaladas do sino estávamos todos concentrados na oração do riso. Um partilhar de alegria e cumplicidade que só os que nascem na mesma familia e conhecem os segredos íntimos e manias do cotidiano uns dos outros podem partilhar. Até mesmo quando se trata do esquecimento da oração mais popular dos cristãos!
Mas toda esta história eu contei pra ilustrar que minha familia fica contando os dias e se preparando para os almoços de domingo em que todos estamos juntos para partilharmos as risadas e a comida. No feriado da páscoa não foi diferente. Eu tenho sido a encarregada da comida do almoço, minha mãe se junta a mim nesta aventura e minha tia e minha prima ficam com a parte doce, elas geralmente fazem as sobremesas, que neste caso, foram os ovos de páscoa para entregar as 04 crianças da familia e aos filhos de alguns vizinhos mais próximos de minha vó a pedido dela, obviamente que quando pede, é uma ordem!

Bom, mas deixando as histórias de lado, eu fiz uma tradicional bacalhoada e  foi assim:

Depois de desalgar, por 24 horas, trocando a água a cada duas, cozinhei metade de um bacalhau  grande (02 kilos com pele e espinhas) em  água e azeite por mais ou menos 30 minutos em fogo médio na panela tampada, retirei o bacalhau e nesta mesma água cozinhei um kilo de batatas sem casca cortada (em formato palito, só que mais grossas um pouco) e deixei cozinhar por alguns minutos ( tem que ficar cozida mas bem firme) e retire. Ainda na mesma água, coloquei um maço de brócolis lavado e picado ( eu uso os talos e as folhas também) por uns cinco minutos só pra ele murchar um pouco, mas ainda ficar bem firme.
Numa panela com azeite, refoguei duas cebolas cortadas em rodelas não muito finas com uma pitada de pimenta do reino até que elas comecem a murchar e reserve.
Fritei 06 dentes de alho bem picadinhos em azeite e reserve.
Piquei em fatias bem fininhas, 01 pimentão verde e 01 vermelho e também reservei.
Bati 02 claras em neve e depois juntei as gemas e uma pitada de sal e reservei também.


Montagem:

Desfiei o bacalhau, retirando a pele e os espinhos e espalhei numa assadeira, em seguida joguei o alho frito por cima espalhando por todo o bacalhau.


Depois coloquei as batatas, o brócolis. Fiz uma segunda camada espalhando as cebolas e por cima espalhei os pimentões picados. Eu temperei com pímenta do reino moída, pimenta calabresa vermelha, folhinhas de tomilho e alecrim fresco.






Espalhei as claras batidas em neve com as gemas e por último coloquei algumas azeitonas pretas ( eu usei chilenas porque são muito saborosas e carnudas) e queijo parmesão  e cheiro verde picadinho por cima, e deixei assar por volta de 40 minutos em forno baixo.




O resultado foi este:



Ficou uma delícia, e a familia toda comeu rezando, rindo e celebrando!


EVOÉ e até o proximo encontro em familia...

P.S.: As fotos são do meu querido irmão Rodolfinho, que tá querendo casar e tem se interessado pela arte de cozinhar!rs..

19 de março de 2011

Costelinha de Porco

Depois de um mês longe sumida, tô eu aqui de volta. E como boa filha de mineiros, costelinha de porco é uma receita que sempre esteve nos almoços lá em casa.
Conheço muita gente que não gosta de carne de porco, ou come bem pouco, por que acha pouco saudável e também porque não confia comê-la qualquer lugar. Lembra das aulas de ciências que mostravam que a carne de porco mal passada transmite doenças sérias? Então, o fato é que muita gente não se arrisca a comer carne de porco, por não saber como foi o processo de cozimento. Eu mesma acho muito dificil pedir um prato com carne de porco num restaurante. Só como mesmo os que faço e claro os que minha mãe faz. E esta é a receita de familia, daquelas cheia de segredinhos para que fique douradinha e suculenta e não seca e esturricada, como se diz no interior.

Eis a receita:

1 kg de costelinha de porco,
01 maço de cheiro verde,
02 cebolas grandes picadas,
04 dentes de alho picadinhos,
Pimenta do reino, sal e pimenta calabresa à gosto.
Suco de 03 limões.
Azeite.

Coloque o azeite na panela e quando estiver quente, jogue o alho. Quando o alho começar a dourar coloque 01 das cebolas e quando ela  estiver começando a murchar coloque as costelinhas, mexendo bem pra envolver a carne. Quando a carne estiver envolvida e branquinha pela ação do fogo, coloque o sal, a pimenta do reino e a pimenta calabresa, abaixe o fogo, tampe e deixe neste processo por um tempo ( coisa de 10 à 15 minutinhos), mexendo de vez em quando - este é o primeiro segredinho: a carne vai cozinhar, na sua própria água, pegar o tempêro e criar um caldo no fundo da panela.
Depois desta primera  fase, aumente o fogo,  tire a tampa e deixe que o caldo seque. Este é o segundo segredinho: o caldo vai secar, o fundo da panela vai escurecer.
Terceiro segredo: Neste momento você não pode deixar de mexer, e vai ver que a carne pegará a cor do fundo da panela como se estivesse sendo grelhado, jogue o suco dos três limões, isso fará com que o fundo se solte e envolva na carne, (se não for suficiente o suco do limão, pode colocar também um pouco de água, mas cuidado pra não passar da conta!) e mexa pra que o fundo ser incorpore ao líquido do suco de limão e então jogue a outra cebola e misture bem. Abaixe o fogo novamente e tampe por uns cinco minutinhos só pra que as cebolas murchem e o caldo dê uma incorpada. Antes de apagar o fogo dê uma boa mexida e jogue o maço de cheiro verde picado.


O resultado é este:




O suco do limão dá o grande toque no sabor!
Desta vez eu servi com brócolis refogado na manteiga e foi um combinação perfeita, mas nos almoços de família em casa, a costelinha estava sempre acompanhada de um arroz branquinho, um feijão com caldo grosso e angú. Garanto que é de comer rezando!